Nem sempre podemos direcionar as nossas energias para o seu devido lugar. Nessas horas, uma corrida, um bom chocolate ou um livro interessante mudam o percurso daquele xingamento que já estava fazendo cócegas na nossa boca. Mas também, se a vontade for muito grande e o objeto merecedor, vá em frente, pra não correr o risco de engolir sapos que nem no seu brejo merecem estar!
"Vai passar, tú sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso, às vezes cruel - porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo - te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento, te surpreenderás pensando algo assim: 'como estou contente outra vez'" (Caio Fernando Abreu)
Como são bons os fins de semana na praia. O encontro com os amigos, o mar, as horas de frescobol compartilhadas com pessoas do bem. Pessoas que a gente gosta muito e que, notadamente, gostam da gente também. A tensão escapulindo aos poucos, em cada movimento, sem que a gente nem perceba. A cerveja no fim da tarde, o papo bom. Uma conversa informal e gostosa, que vai além da tríade BPP (balada-pegação-porres). Pessoas muito diferentes que, em algum momento da semana corrida, fazem a mesma escolha: A praia no fim de semana...
Parece que te conheço de outras vidas, outras histórias, outros carnavais. Mesmo você com esse jeitão "rei da folia" e eu com meu ar meio blasé. Parece que nossos fins de tarde carregam uma intensidade cultivada há muito tempo. Que nossos olhares - embora não se procurassem - estavam destinados a se cruzarem um dia, tamanha a cumplicidade que transmitem. Porque nós dois somos assim. Duas realidades que se juntaram e formaram uma só. Inteira e deliciosamente incompleta. Por isso, destinada a evoluir, crescer, ser ainda mais feliz. Porque o que aprendi estando com você foi muito mais relevante - e muito mais produtivo - do que anos e anos passados na tua ausência. Mesmo com tantos livros, tantas outras pessoas, tantos manuais e incontáveis sessões psicoterápicas. Um ano parece pouco para tudo o que a nossa relação construiu. Porque me sinto inteiramente parte da sua vida. Porque você parece me conhecer muito melhor do que eu mesma. Nossas noites de conversa parecem hoje fundamentais para o bom funcionamento dos nossos dias. Para a manutenção da homeostase diante de tantos afazeres, surpresas e perrengues cotidianos. E me pergunto como um dia pude ser equilibrada, sem você na minha vida. Sem o seu boa noite diário me autorizando a fechar os olhos e ir encontrar-me com morfeu, com a sensação de completude. Salve, salve último ano. Iniciado oficialmente em 28 de maio de 2009. O começo de um novo tempo. O prenúncio de dias muito mais felizes. A abertura do meu calendário... Tão importante quanto os dias 29, 02, 03, 10, 15, 20 que se seguiram. Tão particularmente especial quanto os outros 364 dias que o sucederam. Porque você estava ali... Escrito em negrito na minha linha da vida. Sei que já te agradeci inúmeras vezes em todo esse tempo. Inclusive, até esse mesmo tempo parece pouco diante de tanto agradecimento. Mas não tenho nada mais adequado a fazer. Agradecer e tentar retribuir um pouco do muito que você me dá. Porque diante de tudo o que a nossa relação é, da intensidade que rola entre nós dois, até o tempo parece ficar um pouco perdido... Afinal, não é todos os dias que a gente encontra a pessoa da nossa vida. E pra nossa vida. Faz 01 ano que eu encontrei. Ou fui encontrada. Hoje, tanto faz...
Uma das maiores constatações que a gente pode fazer na vida é a de que as pessoas são diferentes e que - exatamente por isso - nem sempre irão agir como nós gostaríamos. E que essa distinção de comportamento, essa riqueza de modelos de pensamento é que torna tudo mais interessante e o que nos permite evoluir. Sim, porque às vezes padronizamos respostas sem nenhuma razão lógica, sem nenhuma necessidade real. E nos prendemos a esse manual sem considerarmos a realidade como ela se apresenta. Como uma realidade circuntancial que requer de nós constantes adaptações. E quando aprendemos a considerar outras possibilidades, quando flexibilizamos o nosso modo de pensar, começamos a perceber que a vida pode ser mais fácil. Que ela não precisa ser um jogo de regras e determinações rígidas. Que as relações podem ser muito mais leves e aproveitadas de uma forma muito mais inteira...
Muito obrigado por tudo o que tenho. Obrigado por quem eu sou. Desconfio que, nessa vida, são poucas as pessoas que tem a sorte divina de nascer sob a proteção de alguém como você. Quando Deus criou as mães, acho que era nisso que ele pensava. Em alguém responsável por tornar as pessoas melhores. Que educasse os seus seguindo os princípios da ética e da boa educação. Alguém que, mesmo diante de um mundo de cabeça pra baixo, não se rendesse a “normalidade” dos valores trocados e continuasse defendendo o que é certo. Mesmo que os comportamentos errados virassem rotina no mundo aí fora, aqui dentro, no lar que você construiu, o certo ainda é ser honesto, solidário e companheiro. Obrigado por ter plantado e cultivado isso de uma forma tão eficaz, na vida da gente. Hoje, isso faz de nós pessoas diferenciadas. E os elogios que recebemos pela honradez do nosso comportamento, são – indiscutivelmente - transferidos a você.
Sim, definitivamente, era em mães assim que a vida pensou. Bem, é sabido que a gente é resultado de um montão de experiências. E que, em algumas delas, as mães apenas podem cruzar os dedos, rezar, torcer e confiar no trabalho realizado. E foi assim que você sempre fez. Não impondo, mas aconselhando, quando já tínhamos idade para fazermos as nossas próprias escolhas. Não mandando, mas argumentando os seus pontos de vista. Que, muitas vezes, não dizia respeito a nossa forma de pensar, construída por todas essas experiências. Porque somos pessoas diferentes. Todas. Mas temos a mesma fôrma. O mesmo chip. O que de mais importante existe, nós temos igual. Caráter, princípios, valores e boa educação, senso crítico. Por isso somos uma família assim. Podemos até discordar em alguns pontos cotidianos, em algumas idéias e tudo o mais. Isso também é mérito seu. Mérito, sim. Porque você sempre nos deu liberdade para construirmos a nossa história, para analisarmos o que mais parecia com a nossa singularidade. Porque você alimentou o nosso espírito crítico que nos tornou eficiente em discernir o melhor para a gente. E hoje, após mais de 30 anos, sei que a raiz da inteligência é a capacidade que temos de ser flexível, adaptável. A nossa empatia diante do próximo e a grandeza de estarmos sempre dispostos a rever pré-conceitos, pontos de vista e julgamentos. É a chance que damos ao outro – e a nós mesmos – de evoluirmos como pessoa, na tentativa de sermos ainda melhores.
Muito obrigado, mãe. Por tudo. Muito obrigado por estar sempre ao meu lado. Sempre. Pela sua dedicação, seu amor, sua disposição em não medir esforços quando o assunto é o nosso bem-estar. Obrigado por todas as vezes que você confiou em mim. Pelas vezes que aceitou as minhas particularidades mesmo quando elas me tornavam um pouco diferente de você. Nem melhor, nem pior, apenas diferente (e não é isso o que de mais bonito existe no mundo??). Assim como fez, também, com as meninas...
Obrigado por segurar a nossa mão, pelo abraço confortador e pelo carinho que você dedica a nossa família. Você é um exemplar bem raro, posso afirmar. Porque você – junto com painho – consegue preservar a unidade familiar, num mundo cada vez mais individualista e mais atropelado. Porque você é uma das pessoas mais solidárias que conheci. Porque você, com todo o pacote de qualidades e defeitos, consegue ser uma pessoa muito mais evoluída do que a maioria de nós. Por isso tanta gente te quer por perto. Por essa razão, tantas pessoas precisam da sua presença, das suas palavras e da sua companhia... Te amo muito...
Porque a gente constrói verdades... Porque as nossas crenças nos mantêm de pé da maneira mais confortável possível. Com elas, a gente pode acreditar no que melhor nos convier, sem precisar olhar no olho do monstro ou arregaçar as mangas pra tentar diferente. As crenças justificam as nossas ações, as nossas pisadas na bola, as nossas incongruências. Sim, elas são tão fortemente defendidas, que viram verdades até para nós mesmos. Acreditamos que não conseguimos viver sem o outro, porque temos medo de andar com as nossas próprias pernas. Temos medo de abraçar a nossa própria solidão... Criamos as melhores estratégias, as melhores justificativas. Colocamos as responsabilidades na mão de quem quer que seja. Do namorado, dos amigos, da carreira, do destino... Não queremos colocar as nossas lindas mãos na massa pra não corrermos o risco de sujá-las, caso algo não dê certo ao final. Viramos reflexo do outro. Acreditamos em qualquer coisa, porque, em algum momento, deixamos de acreditar na gente. Na nossa capacidade de adaptação, na nossa resistência às frustrações, na nossa força pra começar de novo, para nos reinventarmos sempre que for necessário. Deixamos de acreditar na beleza da nossa singularidade, no poder de atração que exercemos e na grandeza de, simplesmente, abraçarmos o nosso pacote de características.
E porque deixamos de acreditar, empurramos a responsabilidade no outro e entregamos o ônus de um tantão de expectativas no ombro alheio. Até que, depois de muitas frustrações, a gente começa a rever os antigos conceitos e a transformar em possibilidades relativas, todo aquele absolutismo ferozmente defendido a princípio. E, a partir daí, a gente começa a enxergar nossas próprias verdades. Não aquela empurrada pela sociedade, pelo amigo ou pelo vizinho. Não do tipo “é-e-pronto-não-se-fala-mais-nisso”. E vislumbra-se a possibilidade de uma vida mais leve e mais honesta. E a responsabilidade pelo nosso bem-estar passa a ser – na regra – mais nossa do que de qualquer variável externa. E a gente começa a gostar do que experimenta, porque, a partir daí, a felicidade passa a ter um ar mais autêntico e mais levinho. Ela fica mais blindada, mais resistente... E, enfim, nos permite relaxar...
Quando eu pensei que estava sendo fraca, abrindo mão do que acho e penso há tanto tempo, estava - na verdade - começando a enxergar um jeito mais leve de passar os meus dias... Quando pensei que estava cedendo um pouco de mim - por amor -, na verdade, estava apenas começando a ser apresentada a uma de mim potencialmente melhor, também por amor... Obrigado.
Sinto saudades... Porque o pensamento até vaga, mas sempre pára no mesmo porto. Na mesma imagem. Na mesma sensação gostosa que a lembrança traz. Sinto saudades... Porque não existe companhia melhor, em qualquer ocasião. Porque os bons momentos, indiscutivelmente, seriam ainda melhores na presença dele. Porque tudo dá vontade de ser compartilhado. Sinto saudades... Porque ele deixou a presença, mesmo na ausência. Porque meus sentidos parecem programados. O cheiro, o som da voz, o gosto, a sensação que o toque provoca... Tudo muito concreto, mesmo quando distante. Sinto saudades... Porque é meu presente mais especial. A minha escolha mais acertada. O meu futuro mais bonito. Sim, sinto saudades... Não qualquer saudade, mas a maior de todas elas...