terça-feira, 24 de março de 2009

AMORES INVENTADOS

“Não sei, até hoje não sei se o príncipe era um deles. Eu não podia saber, ele não falava. E, depois, ele não veio mais. Eu dava um cavalo branco para ele, uma espada. Dava um castelo e bruxas para ele matar. Dava todas essas coisas e mais as que ele pedisse. Fazia com a areia, com o sal, com as folhas dos coqueiros, com as cascas dos cocos. Até com a minha carne eu construía um cavalo branco para aquele príncipe. Mas ele não queria. Acho que ele não queria, e eu não tive tempo de dizer que quando a gente precisa que alguém fique a gente constrói qualquer coisa, até um castelo”

(Caio Fernando Abreu).


Li esse texto e pensei nas inúmeras vezes em que a gente tentou encaixar alguém numa fantasia nossa. Em quantas ocasiões aquela pessoa não era para ser personagem da nossa história, mas a gente insistiu, a gente lutou, a gente tentou mudar, fez que não viu "o rabinho saindo pela fantasia" apertada, porque ele não cabia ali. Porque a pessoa era quem era. Ponto. Mas a gente quis que fosse. Como se o nosso desejo maior fosse pelo enredo, não pelo personagem. Como se o que mais interessasse fosse o que fantasiamos como ideal, e não o que era, de fato, real. E quanto energia a gente não gastou com fantasia, castelos, dragões... Quem sabe, não foi nesse momento que o sapo-príncipe passou pela nossa janela... Enquanto estávamos ocupadas demais tentando "fazer dar certo" o que não era pra ser...

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