Emoção foi o que não faltou. De todos os tipos e provenientes de diferentes sentimentos. Talvez seja difícil explicar para quem não vivenciou essa experiência, porque eu mesma - corredora há muito tempo - não fazia uma idéia fiel do real significado dos 21. O medo e a dúvida se fizeram presentes no momento da inscrição. Sim, porque eu não queria andar ou me arrastar. Nem tampouco parar, por 30 segundos, que fosse. Para mim, só não seria frustrante se eu corresse do início ao fim. Óbvio que o meu discurso era outro, porque eu não queria alimentar expectativas que não saberia se poderia cumprir.
Da inscrição até a noite que antecedeu a prova, foi o frio na barriga que se fez presente. Um frio na barriga gostoso que deu lugar a uma animação maluca e inesperada que acordou comigo, às 06:30h da manhã, do dia 21 de agosto. Naquele momento eu decidi que eu ía completar a prova, correndo. Simples assim. Decidi e pronto. E que delícia foi o táxi até São conrado, com os meus companheiros de aventura (sim, porque não é qualquer um que topa esse programa, num domingo cheio de frio, de manhã cedo).
E quão nostálgico foi chegar no local da concentração e encontrar atletas se organizando, conversando, aquecendo. Me lembrou os briefings da corrida de aventura. Muito mais o meu lugar do que qualquer concentração pré-festa. Diferente, também, da prova dos 10k. Sim, porque ali, as pessoas estavam um passo a frente. Como diz o marido, é depois dos 10 que se diferencia os homens dos meninos...
Espera, música, filas intermináveis para ir ao banheiro. Frio, muito frio. Momentos de introspecção olhando o mar. Momento de agradecimento. O quarteto estava pronto para partir, junto de uma multidão de, aproximadamente, 20.000 pessoas. Que artista é capaz de juntar tanta gente em um só lugar, às 8h da manhã? E assim a gente partiu. Os homens nos beijaram e foram na frente. Num ritmo de um cromosso Y treinado. Nós mantemos o mesmo ritmo, de mulheres febronas. Íamos nos testando, olhando a paisagem e as figuras presentes no evento.
Amigos de Natal pela Delfim Moreira. A disciplina e a canção cantada pelo bombeiros que corriam pela dignidade. Os gritos de "Mengo" dentro do túnel e as palmas ritmadas que nos faziam correr leve, mesmo após 12, 13km de corrida. A determinação e o exemplo dos atletas especiais. A música que vinha do meu MP3, que coincidentemente me dizia que "é hoje o dia, da alegria. E a tristeza, nem pode pensar em chegar". E assim eu fui. Sem sofrer nem por 01 minuto. Com o pensamento de "o que é que eu estou fazendo aqui" passando a léguas de distância. Porque eu sabia o que estava fazendo ali. E a cada km corrido, eu sabia ainda mais. Ali, onde estávamos, ninguém competia entre si. Todos só queriam terminar a prova.
Depois do km 16, experimentei uma sensação difícil de explicar. Estabeleci um ritmo mais forte e segui. Rindo. Rindo e de peito aberto. Não importava que eu já estivesse correndo a 01h e 30'. Importava, apenas, que a partir daquele ponto só faltava uma corrida básica de 5 km. E essa eu sabia que tiraria de letra. Corri sem olhar o relógio ou a quilomentragem. Corri olhando para a rua na mão contrária, onde as pessoas que estavam na minha frente, já se preparavam para a chegada. Corri procurando o marido para trocarmos a declaração básica no meio da corrida, aos gritos. O final já estava perto. Um cara com uma plaquinha dizendo para EU sorrir, porque Jesus me ama. Uma mulher com uma camisa onde se lia que Deus ajuda, mas não empurra. Coisas que tornaram o fim mais fácil. Faltando 2 km, eu era o estado mais puro de felicidade. Emparelhei num vizinho e mantemos o mesmo ritmo até o fim, numa cumplicidade silenciosa de quem nem se conhece, mas tem algo em comum.
Na chegada, o abraço da redenção. Eu e o marido. Mais um estréia juntos. E muita, muita gente cruzando o pórtico com lágrimas nos olhos..
Para alguns, isso pode ser impensável. Para outros, isso pode ser básico e corriqueiro. E tem aqueles para quem esse é um limite a ser superado. Não importa. O que importa são os sonhos pessoais. Os desafios internos. Os desejos...
Não pensava em correr uma meia, porque achava que não seria capaz. Nunca entrou nos meus projetos, porque parecia uma vista bem distante. Mas, intimamente, achava o máximo aquelas mulheres "comuns" que faziam dessa prova, uma atividade em seu cotidiano. Costumo me subestimar e, até como corredora, me incuía na categoria do basicão. Para isso também servem os amigos. Para nos levar a um lugar desejado, mas não projetado. Para nos incluir em um grupo seleto, que a gente tanto admirava a uma semana atrás.
Agora tô naquele momento de me achar o máximo para mim mesma. Por ter conseguido. Por ter curtido. Por ansiar por mais...
Pato, Gabi e Rica, muito obrigado. Não teria conseguido sem vocês!
Tô pensando em fazer disso uma tradição. Sendo assim, onde será a próxima??????